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universidade lusófona
Notícias

Espiritualidade e Religiões, em prática

16 janeiro 2019

Com Cristina Milagre, Paulo Mendes Pinto e Yves Crettaz

Organização

União Budista Portuguesa

Data

17 de Janeiro às 20h30

Objetivos destes encontros

Aproximar o diálogo e experiência interreligiosas às comunidades de crentes de diferentes religiões, a todos os crentes que não se revêm em nenhuma religião, e a todos os que, não sendo crentes, poderão aqui encontrar um ponto de interesse.

Gostaríamos de oferecer ocasiões em que a atualidade dos temas ou das experiências estivesse em foco. Acreditamos que assuntos prementes na nossa sociedade, compelindo à reflexão e ao debate, tenham uma maior recetividade por parte dos membros das comunidades levando-os a uma maior participação nestes encontros.

Outro dos nossos objetivos é inspirar os membros das várias comunidades religiosas ou outros cidadãos a criar iniciativas desta natureza com impacto social ou cultural relevantes.

Proporcionar através do formato aberto destes encontros diferentes experiências de partilha que dinamizam de forma criativa o diálogo interreligioso como projeto cultural.

Sessão Inaugural de 17 de Janeiro

Nesta sessão inaugural vamos refletir sobre a importância do diálogo interreligioso no contexto atual da nossa sociedade, aludindo à designação escolhida para estes encontros "Espiritualidade e Religiões, em prática".

Frequentemente utilizados como sinónimos, os termos espiritualidade e religião remetem igualmente para universos opostos, respetivamente, para a experiência interior ou direta versus manifestação exterior ou mediada, o indizível versus elaboração intelectual, a atemporalidade versus tradição histórica, etc.

Tendo em conta estes aspetos, como podemos refletir sobre o diálogo interreligioso a par destas dimensões ou repensá-lo entre o ilimitado número de contingências de um percurso singular e a solidez de uma estrutura coletiva?

Cristina Milagre

Licenciada em Psicologia Educacional e mestre em Psicologia Social e das Organizações, tem trabalhado enquanto técnica e dirigente em organismos públicos nas áreas da educação e formação profissional de jovens e adultos, da integração de jovens em risco, da mediação intercultural, e do diálogo intercultural e inter-religioso (INOFOR, IQF, IPJ, IEFP, ANQ e ACM).

Participou ainda em vários projetos de investigação nas mesmas áreas. Integrou o Grupo de Trabalho responsável pela elaboração da Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania. Atualmente é Adjunta da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade do XXI Governo Constitucional da República Portuguesa.

Yves Shoshin Crettaz

Yves Shoshin Crettaz nasceu em Sierre, nos Alpes suiços, em 1946. Após estudos em Letras e Filososfia, ensina num liceu do seu país. Mais tarde volta-se para o jornalismo e trabalha durante dez anos numa grande revista semanal da Suiça francesa. Funda e dirige a seguir a Média S, agência de redação e de comunicação especializada nos domínios da saúde pública e do social.

Foi ordenado monge zen em 1988. Em 1997 vem para Lisboa com o seu mestre Raphaël Doko Triet, para abrir o dojo zen de Lisboa. É responsável deste dojo desde 2005 e dos grupos zen abertos posteriormente em Portugal. Recebeu a transmissão do Dharma do seu mestre Raphaël Doko Triet.

É membro do Conselho de administração da Associação zen Internacional (AZI) e da Comissão de Adesão da União Budista Portuguesa.

Paulo Mendes Pinto

Assessor da Administração da Un. Lusófona e membro da Comissão Executiva do Conselho Superior Académico do Grupo Lusófona, é o Coordenador da área de Ciência das Religiões na Un. Lusófona, onde dirigiu a Licenciatura e o Mestrado em Ciência das Religiões. Embaixador do Parlamento Mundial das Religiões (desde Oct. 2014), é também fundador da European Academy of Religions.

Especializado em Mitologia Antiga, dedica actualmente o sue trabalho à definição do campo disciplinar da Ciência das Religiões, e ao Diálogo entre as Religiões e Cidadania. Coordenou o seminário «República e Religiões», que se realizou no Museu da Presidência da República em 2005, e foi o coordenador científico do projecto «Religiões: História – Textos – Tradições», sediado na Re-Ligare (Unidade de Missão para o Diálogo com as Religiões), da Presidência do Conselho de Ministros, em 2006.

Foi o responsável pelo Inquérito à Cultura Religiosa em Portugal, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian (2013). Coordenou, em 2017, o projecto «Roteiro do Diálogo Inter-religioso», apoiado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade. Coordenou a primeira fase da participação portuguesa no projecto «EUREL – Données sociologiques et juridiques sur la religion en Europe», da Un. Robert Schuman e do CNRS. Participou, também, no projecto do British Council «Our Shared Europe».

No campo das relações com o Islão, dirigiu o Instituto Al-Muhaidib de Estudos Islâmicos (2014 – 2016), tendo sido co-fundador do Clube de Filosofia Al-Mu’tamid, criado entre a Un. Lusófona e a Comunidade Islâmica de Lisboa (2014).

Lançou o projecto «Base de Dados de Património Islâmico em Portugal», hoje com quase 1000 registos. Com a Fundação islâmica de Palmela, criou a «Formação Avançada para Lideranças Islâmicas», dirigida a Imames a actuar na Europa. Co-coordena, ainda, a Pós-Graduação em «Islão e Segurança».

No campo dos Estudos Judaicos é o coordenador das jornadas Terra(s) de Sefarad, que tem lugar de dois em dois anos em Bragança. Desde Abril de 2018 que é membro da comissão executiva da Rede de Judiarias de Portugal. Foi o comissário da exposição «Heranças e vivencias judaicas em Portugal», na Torre do Tombo (Março e Abril de 2017).

Foi o responsável pelo projecto de catalogação dos manuscritos portugueses da Biblioteca Ets-Haim / Montesinos da Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian (2013-14). Coordenou o projecto FCT «Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses.

Mercadores e gente de trato». Foi um dos coordenadores dos volumes Evangelhos – Comentados (2005, 2006 e 2007), que reuniu mais de 150 altas individualidades nacionais e lusófonas em torno de comentários a trechos do Novo Testamento, reunindo colaboradores de quase todos os horizontes religiosos presentes e Portugal.

Sobre este Projecto

O que é pôr em prática a espiritualidade e as religiões?

Ao longo dos tempos, têm sido múltiplas as formas como as religiões se manifestam, todavia têm em comum situar a experiência humana numa dimensão que transcende ou liberta o indivíduo e o seu sentido mundano, consciente da transitoriedade da vida e, portanto, apelando a um desenvolvimento interior ou espiritual que contempla o cultivo do bem, de valores positivos e nobres.

Tradicionalmente, espiritualidade e religião foram termos sinónimos, ou, pelo menos, termos correlacionados partilhando uma grande área de sobreposição conceptual. Ambos envolvem a experiência do sagrado. Também se pode dizer que a religião é uma forma de espiritualidade uma vez que o objetivo da religião e respetivas instituições é apoiar a procura espiritual.

No entanto, na segunda metade do século XX, em particular nalgumas partes da Europa e na América do Norte, espiritualidade e religião começaram a divergir.

O entendimento de espiritualidade passa a estar conotado como caminho interior, numa relação direta do indivíduo com o divino/sagrado, distanciando-se das práticas e discursos tradicionais. A ênfase é deste modo colocada na procura individual, onde se incluem experiências místicas e novos modelos de espiritualidade, muitos deles inspirados em tradições espirituais orientais. Por outro lado, a esfera da religião passa a estar mais confinada à dimensão comunitária e organizacional, continuando a ser representante de um corpus doutrinário tradicional através das suas instituições. Este fenómeno de divergência tem sido interpretado por vários teóricos como sendo o resultado das tendências de secularização, desinstitucionalização, individualismo e globalização nas nossas sociedades.

No que diz respeito ao contexto português, maioritariamente católico, a atitude de muitos crentes perante as instituições religiosas alterou-se. O crente contemporâneo é menos sujeito à autoridade religiosa, optando ou rejeitando aspetos da sua religião conforme a sua consciência.

Em paralelo, a vivência do fenómeno religioso tem-se tornado mais complexa com o florescimento de uma sociedade cada vez mais multicultural, em que diferentes religiões coexistem. Em muitas partes do mundo existe uma convivência pacífica entre as religiões e a emergência do diálogo interreligioso tem sido acolhido pelas responsáveis políticos, pelos cidadãos crentes e não crentes. Promover este diálogo é fomentar a paz e a harmonia sociais e evitar visões preconceituosas e fundamentalistas acerca da religião. Esta intenção preside também a estes encontros, nos quais teremos presente que qualquer forma de diálogo, atento à escuta e evitando julgamentos de valor céleres, se faz na abertura aos Outros e à sua diferença.

Conhecer e refletir sobre o que nos une e o que nos diferencia, mantendo um respeito equânime por ambas as condições, são formas de garantir uma caminhada segura, em que não nos sentimos excluídos, discriminados ou agredidos.

Sabemos que a conflitualidade e violência é inerente à condição humana e que nem sempre é a via da Paz e da harmonia que os seres escolhem para lidar com as situações ou os seres que os rodeiam. Na Europa contemporânea há vozes que contestam a liberdade religiosa que se instituiu como legítima nas nossas democracias, e que temem uma sociedade plural. Estas posições lembram-nos da importância do diálogo interreligioso como instrumento de sensibilização na permanente construção de uma sociedade multicultural e multireligiosa. Ainda que numa convivência pacífica, como é o caso de Portugal, não devemos assumir que por se ter conquistado os direitos à liberdade de expressão e religiosa, elas estão garantidas no futuro.

Nestes encontros visamos contribuir para o alargamento do espaço da partilha entre as diferentes espiritualidades e religiões presentes na sociedade portuguesa. A nossa aspiração é criar um espaço que seja motivo para nos sentirmos mais em casa, numa casa comum, com diferentes vozes. Construir o diálogo constitui em última instância aquilo a que Peter Stilwell designou como o “esforço por equacionar o fundamento último da vida em comum” e atrair as comunidades religiosas a fazê-lo.

São igualmente formas de construirmos um futuro de paz, de nos sentirmos confiantes a partilhar e debater, mesmo entusiasmadamente, sobre os nossos pontos de vista. As nossas crenças, experiências e pensar são pontos de partida, que devem ser trazidos para este espaço como algo que implica por vezes aceitar a vulnerabilidade de quem se entrega e a suspensão de quem se questiona. Conhecer, debater e confrontar são, assim, instrumentos de enriquecimento interior e não atos de imposição ou recriminação de ideias e crenças. Desejamos que estes encontros sejam um lugar seguro para todos, cuja única ameaça poderá ser sentirmo-nos vulneráveis na abertura aos Outros.

Formato dos Encontros

Optámos por um formato aberto para estes encontros. Neste sentido, as nossas práticas do diálogo podem ser de cariz mais teórico ou mais prático, abrangendo diferentes propostas.

Alguns encontros serão organizados na modalidade de debate em que os intervenientes abordam temas específicos, outros em formato de tertúlia ou entrevistas, os quais estão abertos à participação do público. Poderemos também promover workshops práticos ou práticas em conjunto que dinamizem atividades específicas para cada temática, tal como experiências de cariz religioso/espiritual dinamizadas através de práticas artísticas, culturais, sociais ou outras.

Abordaremos aspetos relacionados com o ideológico /doutrinário, filosófico, ritual-celebrativo, praxística, e também com as atitudes, experiências e emoções do fenómeno religioso e espiritual. Teremos presente a consciente e necessária permuta dos contributos provenientes da cultura e conhecimento laicos.

Conforme agendados estes encontros serão anunciados via Newsletter, Site e Facebook da UBP e seus parceiros.

Fonte