Skip to main content
universidade lusófona
Notícias

A urgência de observar o fenómeno religioso

22 junho 2016

O Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR) lançou um comunicado de final de ano, que aqui publicamos na íntegra, em que apela à requisição de todos os esforços de cidadania, «aquela que ergue plataformas de organizações da sociedade civil e política para apoio às minorias ou aos refugiados na presente crise na Europa, mas a todos os que têm o direito às suas liberdades, consignadas na Lei e defendidas por cada um de nós, cidadãos de um mundo livre e de valores - impõe-se atualmente.

Porque vivemos momentos de flagrante injustiça, pelo desrespeito aos Direitos Humanos e pela falta de respeito do Homem perante si mesmo, há que mobilizar atenções e recursos, incentivar a pedagogia, educar para a cidadania e para a integração.

Entre os equívocos do presente está a interpretação do fenómeno religioso, que grupos marginais, armados, atuando isoladamente ou em grande escala, procuram fazer impor, confundindo e abusando da essência da religião e da religiosidade.

Não nos cabe fazer uma avaliação exegética ou hermenêutica dos (con)textos religiosos, mas a forma como a religião e o fenómeno religioso se manifestam ou podem manifestar na construção de uma sociedade integradora, plural e pacífica.

Reclamando uma matriz religiosa, esses intérpretes da religião revelam ser assassinos e delinquentes, agindo de forma cobarde, atacando os mais desprotegidos e, sob interesses políticos, a própria cidadania que nos estrutura e explica enquanto sociedade.

A sua ação e vocabulário lançam dúvidas na opinião pública, que a opinião publicada intensifica. Assumem-se como representantes de uma religião que também lhes tem asco.

Querem que o mundo acredite que atuam com um sentido religioso, quando as evidências revelam que professam, isso sim, a desumanidade.

Quando falamos hoje de massacres, de barbárie e crime, em cenários tão diferentes como a França, o Níger, a Nigéria, a Síria, entre tantos exemplos de uma triste longa lista, devemos observar que a realidade dos outros é também nossa e que a interpretação dos acontecimentos requer o nosso melhor exercício de entendimento.

Estamos perto, muito perto, por força da globalização e da linguagem mediática, também ela geradora de equívocos que requerem novas ferramentas para melhor entender a comunicação do/no nosso tempo.

Em Portugal, temos também observado extremismos, embora numa escala bem menor.

Os que atuam pela força física e pela guerra psicológica, pela ideologia, pela difusão nas redes sociais e até nos órgão de comunicação social, procurando clivagens, fomentando os opostos, confundindo os sentimentos, estão entre nós.

Sobretudo as redes sociais fervilham de mobilização para essas radicalizações, algumas usando tradicionais chavões provenientes dos léxicos da xenofobia e do racismo.

Devemos procurar entender as circunstâncias que geram o medo e a perturbação. Não podemos aceitar manobras deliberadas para daí retirar dividendos de um proselitismo que segrega ou para aplicar cartilhas ideológicas que atentam contra a cidadania, a liberdade religiosa e os Direitos Humanos.

A recente notícia da construção de uma nova mesquita em Lisboa pode ser usada como exemplo dessa cruzada mental.

Acresce a nova realidade dos refugiados, cuja rota passa pelo nosso país.

Em alicerces de medo e de ignorância, mas também de objetivos com interesses previa e visivelmente definidos, cresce perigosamente o grau da intolerância.

O papel do Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR) em Portugal, a assinalar o seu primeiro aniversário, reforça por tudo isto a sua razão de ser.

Perante a ameaça do terrorismo na Europa, fomentado por esses que se reclamam religiosos e assim se escondem sob a capa de uma religião; perante as mutações do modo de viver do Velho Continente, hoje casa de acolhimento de gente que procura a Paz fora da sua terra natal; perante a escalada da xenofobia e da intolerância, do pensamento hostil difundido por centros imanentes de ideologias construídas para o confronto e para a violência; perante tudo isto, somos necessários.

É essa a razão porque continuamos, nos bastidores, no terreno, com as iniciativas que nos solidarizam.

Observamos para que Portugal continue a ser um país em que as diferenças possam existir, coabitar, respeitando-se no que são.

Para defender um país como o que somos, que é o da multiplicidade cultural e do convívio integrador entre culturas.

Porque assim aprendemos a ser e para que assim se mantenha, com um civismo sempre crescente».